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O Boom das Apostas e a Crise Silenciosa: A Ansiedade e o Vício em Jogos de Azar

  • Foto do escritor: Ariane Andreia Teixeira Toubia
    Ariane Andreia Teixeira Toubia
  • 19 de mai.
  • 4 min de leitura

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O Brasil vive uma febre de apostas online, com mais de 52 milhões de novos apostadores nos últimos cinco anos e gastos mensais de 20 bilhões de reais. Impulsionado pela legalização parcial em 2018 e pela Lei das Apostas de 2023, o mercado de jogos transformou o país no terceiro maior hub de apostas esportivas do mundo. No entanto, por trás dos números, há uma crise de saúde mental: o vício em jogos de azar, que atinge 1% da população com jogo patológico e 1,3% com jogo. Histórias como a de “King”, um jovem de São Paulo que acumulou 85.000 reais em dívidas, revelam como o jogo, inicialmente uma fuga do estresse, pode se tornar uma armadilha. Este artigo mergulha na relação entre ansiedade e vício em jogos, explorando o mecanismo de retroalimentação que perpetua esse ciclo no contexto brasileiro.

 

A Retroalimentação Perigosa


A ansiedade e o vício em jogos de azar formam uma relação bidirecional, onde cada um alimenta o outro em um ciclo devastador. Pesquisas internacionais mostram que até 37% dos jogadores problemáticos têm transtornos de ansiedade, frequentemente usando o jogo como uma forma de automedicação para aliviar tensão ou incerteza. A excitação do jogo ativa o sistema de recompensa do cérebro, liberando dopamina e proporcionando alívio temporário, mas esse efeito é fugaz. Quando as perdas se acumulam, a ansiedade dispara, desencadeada por dívidas, culpa e medo de consequências sociais, como o caso de “King”, que enfrentou ameaças de agiotas.

Esse mecanismo de retroalimentação é sustentado por fatores neurobiológicos e psicológicos. O jogo patológico compartilha semelhanças com vícios em substâncias, como alterações nos circuitos de dopamina que reforçam o comportamento impulsivo. Psicologicamente, jogadores com ansiedade são mais propensos a distorções cognitivas, como a ilusão de controle (acreditar que podem influenciar resultados) ou a perseguição de perdas (tentar recuperar o perdido), o que prolonga o comportamento de risco. A ansiedade também amplifica a sensibilidade ao estresse, tornando os jogadores mais suscetíveis a recaídas em momentos de pressão.


O Contexto Brasileiro


No Brasil, a falta de estudos específicos dificulta a quantificação exata dessa relação, mas evidências indiretas sugerem um cenário preocupante. Um estudo com jogadores em tratamento encontrou associações com agorafobia, uma condição ligada à ansiedade, indicando que transtornos ansiosos são comorbidades. Outro estudo comparando mulheres brasileiras e americanas com transtorno de jogo revelou que 36,9% das brasileiras tinham depressão, que frequentemente coexiste com ansiedade, contra 24,4% nos EUA. A pandemia de COVID-19 intensificou o problema, com o isolamento social e o acesso fácil a plataformas online levando a picos no jogo problemático.

O contexto socioeconômico brasileiro agrava esse ciclo. Beneficiários de programas como o Bolsa Família gastaram 3 bilhões de reais em apostas em agosto de 2024, mostrando como populações vulneráveis são particularmente afetadas. A publicidade agressiva e a acessibilidade de aplicativos de apostas reforçam o comportamento, enquanto a falta de regulação eficaz até recentemente deixou muitos sem proteção. Esse ambiente cria um terreno fértil para a retroalimentação entre ansiedade e vício, com consequências devastadoras para a saúde mental e financeira.

 

A TCC e a quebra do mecanismo.


A relação entre ansiedade e vício em jogos de azar é um desafio urgente no Brasil, especialmente com o crescimento das apostas online. A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) surge como uma solução poderosa para romper esse ciclo. Estudos mostram que a TCC reduz o comportamento de jogo e alivia sintomas de ansiedade, com uma revisão sistemática indicando melhorias na qualidade de vida quando combinada com. Em um caso clínico, uma paciente viu sua pontuação no PG-YBOCS cair de 20 para 2 após a TCC, aprendendo a gerenciar a ansiedade que desencadeava o jogo (https://pmc.ncbi.nlm.nih.gov/articles/PMC2789341/).


A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) é uma abordagem estruturada e baseada em evidências que pode interromper o ciclo de retroalimentação entre ansiedade e vício em jogos de azar. Ela atua em três frentes principais:



  • Reestruturação Cognitiva: A TCC ajuda os pacientes a identificar e desafiar pensamentos disfuncionais, como a ilusão de controle ou a crença de que “a próxima aposta vai recuperar tudo”. Substituindo essas ideias por pensamentos realistas, reduz-se a compulsão de jogar.

  • Gestão da Ansiedade: Técnicas como respiração diafragmática, relaxamento muscular progressivo e mindfulness são ensinadas para controlar a ansiedade, diminuindo a necessidade de recorrer ao jogo como fuga.

  • Prevenção de Recaídas: A TCC desenvolve habilidades de resolução de problemas e estratégias para lidar com gatilhos, como estresse financeiro ou anúncios de apostas, ajudando os pacientes a manter o controle a longo prazo.

 

No Brasil, a TCC enfrenta desafios, como níveis mais baixos de educação (59,9% das mulheres com transtorno de jogo têm ensino médio ou menos) e acesso limitado a terapeutas treinados. Mesmo assim, esforços recentes, como a força-tarefa do governo para abordar o vício, sinalizam um caminho. Para vencer esse ciclo, é essencial investir em pesquisas locais, adaptar a TCC ao contexto cultural e expandir o acesso a serviços de saúde mental. Profissionais, legisladores e a indústria de jogos devem unir forças para transformar vidas. Quebre o ciclo agora: a aposta certa é na saúde mental.

 

 

 
 
 

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