A Reunião que Mudou Tudo
- Ariane Andreia Teixeira Toubia
- 8 de mai.
- 5 min de leitura

Era uma manhã cinzenta em São Paulo, e o escritório da Innovatech, uma startup de tecnologia, fervilhava com o som de teclados e conversas apressadas. No décimo andar, a sala de reuniões estava lotada para a apresentação trimestral. Mariana, uma gerente de projetos de 32 anos, sentia o coração disparar enquanto ajustava os slides. Ela havia passado semanas preparando o relatório, mas a pressão do prazo e as críticas recentes de seu chefe, Ricardo, a deixavam à beira do colapso.
Ao lado dela, Lucas, analista de dados, folheava anotações nervosamente. Ele tinha se desentendido com um colega, Ana, na semana anterior, e a tensão entre eles pairava no ar. Enquanto isso, Clara, a nova estagiária, tentava se manter invisível, sentindo-se desvalorizada por nunca receber feedback sobre seu trabalho.
A reunião começou, e o clima era pesado. Ricardo, com sua habitual postura exigente, abriu a palavra:
— Mariana, espero que esses números justifiquem o atraso no último sprint. Não podemos mais tolerar deslizes.
Mariana engoliu em seco, sentindo o peso do julgamento.
— Ricardo, os dados mostram um aumento de 15% na eficiência, mas tivemos contratempos com o fornecedor... — começou ela, com a voz trêmula.
— Contratempos? Isso é desculpa, Mariana. Você precisa assumir a responsabilidade — cortou Ricardo, sem piedade.
Lucas, que estava quieto até então, não resistiu e murmurou para si mesmo:
— Como se Ana tivesse entregado os relatórios no prazo...
Ana, sentada do outro lado da mesa, captou o comentário e retrucou, com o tom afiado:
— Desculpa, Lucas, mas eu não sou responsável pelo seu atraso. Se você organizasse melhor seus dados, talvez a gente não estivesse nessa.
A sala ficou em silêncio, e Clara, tímida, abaixou a cabeça, pensando: “Ninguém nunca percebe o que eu faço. Sou invisível aqui.”
A Intervenção
Naquela tarde, a equipe foi surpreendida por uma novidade: a Innovatech contratara uma psicóloga organizacional, Dra. Sofia, especializada em Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), para conduzir um workshop sobre saúde mental. A ideia era melhorar o clima no time, que vinha sofrendo com estresse e conflitos. Apesar do ceticismo inicial, todos compareceram.
Dra. Sofia começou com uma pergunta direta:
— Quantos de vocês já sentiram que estão carregando o peso do mundo no trabalho?
Mariana levantou a mão hesitantemente, seguida por Lucas e, para surpresa de todos, Clara. Ricardo, de braços cruzados, permaneceu em silêncio.
— Ótimo, isso é comum — disse Sofia, com um sorriso acolhedor. — O ambiente corporativo pode gerar estresse, ansiedade e até burnout. Mas a TCC nos dá ferramentas para mudar como pensamos e agimos diante dessas pressões. Vamos explorar isso juntos?
Mariana: Enfrentando a Pressão
Sofia começou com Mariana, que compartilhou sua ansiedade constante com os prazos.
— Sinto que, se eu não entregar tudo perfeito, vou perder meu cargo. É como se eu nunca fosse boa o suficiente — admitiu ela, com os olhos marejados.
Sofia assentiu e explicou:
— Isso parece um pensamento distorcido, Mariana. A TCC chama isso de catastrofização. Vamos tentar a reestruturação cognitiva. Qual é a evidência de que um erro vai custar seu emprego?
Mariana refletiu por um momento.
— Bem... eu já entreguei projetos bem-sucedidos antes, e o Ricardo nunca mencionou demissão. Acho que estou exagerando.
— Exatamente! — disse Sofia. — Vamos reformular esse pensamento. Em vez de “Se eu errar, vou falhar”, que tal “Posso priorizar o que é mais importante e pedir ajuda se precisar”?
Mariana sorriu pela primeira vez no dia.
— Isso parece... mais leve. Posso tentar.
Sofia sugeriu ainda uma técnica de relaxamento:
— Quando sentir o estresse subindo, experimente a respiração diafragmática. Inspire por 4 segundos, segure por 4, expire por 6. Faça isso por um minuto antes das reuniões.
Lucas e Ana: Resolvendo Conflitos
Em seguida, Sofia abordou o conflito entre Lucas e Ana.
— Percebi uma tensão entre vocês na reunião. Querem compartilhar o que está acontecendo?
Lucas cruzou os braços.
— Ana sempre atrasa os relatórios, e eu fico parecendo o desorganizado. É frustrante.
Ana revirou os olhos.
— Lucas, você nunca me avisa quando precisa dos dados com antecedência. Como eu vou adivinhar?
Sofia interveio:
— Isso é um clássico problema de comunicação, e a TCC pode ajudar com o treinamento de habilidades sociais. Vamos praticar a assertividade. Lucas, tente expressar sua necessidade sem culpar a Ana.
Lucas respirou fundo e tentou:
— Ana, eu realmente dependo dos seus relatórios para entregar meu trabalho no prazo. Podemos combinar um cronograma para eu te avisar com antecedência?
Ana pareceu surpresa, mas respondeu:
— Tudo bem, isso seria útil. Eu também fico sobrecarregada, então saber quando você precisa dos dados vai ajudar.
Sofia sorriu.
— Viu? Comunicação clara reduz conflitos. Vocês podem criar um canal de diálogo, como uma checagem semanal. Isso é resolução de problemas, outra técnica da TCC.
Clara: Superando a Invisibilidade
Por fim, Clara, que raramente falava, levantou a voz timidamente:
— Eu sinto que ninguém vê meu trabalho. Faço o que pedem, mas nunca recebo um “bom trabalho”. Às vezes, acho que não sirvo pra isso.
Sofia olhou para ela com empatia.
— Clara, isso parece um padrão de pensamento negativo, como “Não sou valorizada, então não tenho valor”. Vamos usar a ativação comportamental. O que você gosta de fazer e poderia incorporar no seu dia para se sentir melhor?
Clara pensou por um momento.
— Gosto de escrever. Às vezes, faço resumos dos projetos, mas ninguém lê.
— Excelente! — disse Sofia. — Que tal compartilhar esses resumos com o time? Isso pode destacar seu trabalho e te dar mais visibilidade. Além disso, experimente pequenas ações que te tragam alegria, como uma pausa para um café com um colega.
Clara assentiu, um pouco mais confiante.
— Acho que posso tentar. Talvez até pedir feedback diretamente.
Sofia virou-se para Ricardo, que parecia pensativo.
— Ricardo, como líder, você pode reforçar o reconhecimento. Um simples “obrigado” faz maravilhas para a saúde mental da equipe.
Ricardo, um pouco desconfortável, admitiu:
— Talvez eu tenha focado demais nos problemas e esquecido de valorizar o que está funcionando. Vou prestar mais atenção.
O Impacto
Nas semanas seguintes, a equipe começou a aplicar o que aprendeu. Mariana adotou a respiração diafragmática antes das reuniões e passou a priorizar tarefas, sentindo-se mais no controle. Lucas e Ana criaram um cronograma compartilhado, reduzindo mal-entendidos. Clara começou a enviar seus resumos ao time e, para sua surpresa, recebeu elogios de Ricardo, que também passou a reconhecer mais o trabalho da equipe.
O clima na Innovatech mudou. As reuniões, antes tensas, tornaram-se mais colaborativas. A equipe percebeu que cuidar da saúde mental não era um luxo, mas uma necessidade. Dra. Sofia voltou para workshops mensais, e a empresa implementou um programa de suporte psicológico baseado em TCC, com sessões individuais e treinamentos em grupo.
Numa tarde ensolarada, Mariana, Lucas, Ana e Clara se reuniram para um café no intervalo.
— Quem diria que uma reunião tensa ia nos trazer até aqui? — brincou Lucas, rindo.
— É, aprendi que não preciso carregar o mundo sozinha — disse Mariana, com um sorriso.
— E eu que achava que ninguém me notava... agora sinto que faço parte — completou Clara.
Ana ergueu sua xícara.
— À saúde mental e a um time que aprende junto!
Reflexão Final
Essa história fictícia ilustra como as atribulações do ambiente corporativo – pressão, conflitos, falta de reconhecimento – podem impactar a saúde mental, mas também como a TCC oferece soluções práticas. Técnicas como reestruturação cognitiva, relaxamento, treinamento de habilidades sociais e ativação comportamental capacitaram Mariana, Lucas, Ana e Clara a enfrentar seus desafios. Mais importante, a história destaca o papel das empresas em criar ambientes que valorizem a saúde mental, transformando não apenas indivíduos, mas equipes inteiras.
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